Olá, velho amigo, como você tem passado? Já faz algum tempo que não nos falamos, o que é estranho vindo de duas pessoas que conversavam todos os dias. Mas mais estranho é que o fato não me incomoda mais, não tento mais reviver o que já foi enterrado. Sei poucos detalhes soltos do que tem acontecido em sua vida, e você não sabe qualquer coisa do que me vem acontecendo. E faz mais de dois anos, querido. Eu me pergunto se você pensa sobre nós, sobre a amizade que aos poucos foi indo embora. Eu penso. É triste perceber que eu não coloco mais a mão no fogo por você, e que eu saí queimada antes. Será que você também percebeu que não tem volta? As vezes eu acho que não. Talvez se nas poucas vezes que nos falamos nesse longo período você tivesse parado alguns instantes de falar sobre você e tivesse se importado, demonstrado algum interesse pelo que estava acontecendo comigo... eu precisei de você, sabe? Mas você nunca esteve lá. Cobrou de mim várias atitudes, no entanto, o que foi que você fez? Ficou sentado esperando que eu fizesse o trabalho de tentar manter a nossa amizade em pé, não é? Pois bem, eu já deixei de fazer isso a algum tempo, e você acha que é porque eu deixei de me importar contigo. Não, eu só cansei de ser a única que se importa. Cansei de precisar de um ombro amigo e ter que ficar quieta ouvindo você falar do seu corte de cabelo, porque qualquer tentativa minha de abertura era cortada. Não estou querendo dizer que eu não tenho culpa, sei que tenho, mas não consigo pensar em como isso poderia ter tomado um rumo diferente. Talvez se nós tivéssemos tido essa conversa antes... Eu adoraria ter falado, mas você me conhece, ou pelo menos essa característica minha. Medo. Sim, eu tinha medo de te perder, mas olha só que ironia, por medo de perder, acabei perdendo. Nós acabamos perdendo - e talvez isso nem te abale (eu adoraria saber). Por favor, me diga tudo o que tens pra dizer quanto a isso, esperei por muito tempo, então não precisa ter pressa.
Ainda com carinho, Isabel.